Cammini, ciclos e despedidas
Sobre um referendo que pouca gente viu, um mapa astral que virou a chave, e a vontade de me despedir antes de partir.
Tive dificuldade pra fazer esse texto porque os temas que me chegaram não se encontravam, a principio. A leitura de meu mapa astral, meu acumulo de livros e o referendum italiano. Vai ficar no caos mesmo e eu que leia sozinha a minha tempestade.
Meu mapa, um outro plano
Em 2022, o astrólogo português José Augusto Astrólogo interpretou meu mapa astral. Das coisas importantes e certeiras que ouvi a frase que mais me marcou foi: "Estás no fim de um ciclo de 14 anos, que termina em abril ou maio de 2023. Até lá, não te cases, não compres casa, não cries raízes. Experimente. Voe." Em maio de 2023, o ciclo virou. Mas eu segui brigando para ficar onde já não cabia. Esmurrei a porta que já estava aberta. Os ciclos se entrelaçam e confundem. Que lentidão a minha para entender, meu Deus! Bem-vindo, novo ciclo. Ainda tenho 12 anos para te desfrutar.
Il referendum che non è stato
Cinco chances de mudar o que há muito tempo precisa ser corrigido: o direito à cidadania para quem nasce aqui, o fim das demissões injustas sem reparo, a responsabilização por acidentes de trabalho, os contratos abusivos, as indenizações limitadas. Mas não teve quórum. A maioria nem apareceu. Giorgia Meloni comemorou, como se ignorar a precariedade e a exclusão fosse uma vitória. Chi se ne frega. O silêncio foi escolha, a omissão também.
Se não te comove, estás morto
Elas respondem aos comentários racistas contra o ius soli com uma força, uma doçura, uma lucidez que desmonta qualquer argumento xenofóbico.
E a vontade de me despedir...
E junto com esse novo tempo, vem também a vontade de me despedir dos meus amores antes de partir para o Camino Primitivo. Tenho a impressão de que há ali um portal e que vou sair diferente do outro lado. Mas talvez a mudança seja constante, e esse outro lado se revele a cada passo e o caminho ja esteja posto o tempo todo. Talvez o túnel seja mais longo. Comunque, senti essa necessidade de dizer, “Me ame na volta também.”
La parola nuova: tsundoku
Parola giapponese che descrive la tendenza ad acquistare libri, accumularli e ovviamente non riuscire a leggerli tutti. (dal testo La mia antibiblioteca Vittorio Lingiardi)
Talvez todos esses assuntos, o mapa, o referendo, os livros empilhados, falem da mesma coisa: o tempo que a gente demora pra ver o que está diante dos olhos. Os ciclos viram, mas resistimos. As mudanças se oferecem, mas recusamos. As histórias se acumulam, mas não as lemos. A cidadania negada, o silêncio da maioria, o futuro adiado, tudo isso também mora dentro da gente. Talvez a maior travessia não seja o Caminho de Santiago, mas o caminho de aceitar que chegou a hora de começar o livro e entrar no novo ciclo. E, com sorte, voltar diferente, mas ainda amando, e sendo amado do outro lado.